Published in Rock Brigade Magazine in 03.12.2012
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La Paz – El Alto – Oruro – Sucre – Cochabamba
19 a 27 de Outubro de 2012
Texto e fotos cedidos pela própria banda
Pela terceira vez fomos convidados para uma turnê na Bolívia. A primeira aconteceu em novembro de 2008, depois em junho de 2009, onde iniciamos a nossa “World Tour” com o disco “Satanichaos” e da Bolívia partimos para mais 26 países. Ou seja, a banda já tinha história na Bolívia, um país que não é rota normal para a maioria das bandas de Metal.
E nessa nova visita ao país, mais uma vez com um disco novo nas mãos (Apocalypsenow) iríamos começar uma nova turnê mundial. Partimos de São Paulo para uma sequência, a princípio de seis apresentações, mas logo que chegamos ao país nos demos conta que seriam oito. Beleza, nove shows em nove dias.
O primeiro show foi em uma sexta feira, mais exato no dia 19 de outubro, em uma praça bem no centro de La Paz. Uma apresentação ao ar livre, mas com bastante falta de ar, devido aos 3660 metros de altitude. Mas diante de um público de mais de 3000 pessoas gritando pelo nosso som, essa condição de limitação física foi totalmente ignorada, pois o sangue ferveu e a barulheira correu solta. Foram muitos os sons que tivemos um coro de gente cantando conosco, sendo realmente inacreditável logo essa primeira apresentação e o carinho do público em La Paz, sem deixar de ressaltar a presença de canais de televisão que estavam cobrindo o evento com links ao vivo da nossa apresentação.
No dia seguinte, dia 20 de outubro, no sábado, o show seria ainda em La Paz, mas em um local fechado a algumas quadras da apresentação do dia anterior. Supostamente por termos dois show na mesma cidade, esperávamos bem menos público, mas fomos surpreendidos mais uma vez pela nação metaleira boliviana. O Local estava cheio e a cada minuto chegava mais gente, quando por fim tivemos mais de 2000 pessoas bangueando e pogando o tempo todo. Contando com um som de primeira qualidade pudemos fazer uma apresentação tecnicamente melhor do que na “La Plaza Camacho”, e ainda com o público respondendo à altura. Não deixavam que terminássemos a apresentação, e mesmo depois de já termos nos despedido, tivemos que retornar e repetir a música “MASSACRE” do disco Demonocídio. Eles Gritavam e berravam o nome da música e enquanto não voltamos, eles não pararam e durante essa musica cantaram cada palavra mesmo ela sendo em português.
Nessa ida à Bolívia, Eu (Batista, baixo e voz) e Juliana (Bateria), contamos para completar o ANTIDEMON, com a ajuda de “Marcelo Soldado Nejem” nas guitarras (ex – guitarrista do Korzus e Treta, e atual guitarrista e vocalista da banda Coração de Herói).
Fizemos o mesmo set list para todas as apresentações no país, tocando sons dos quatro discos lançados: Demonocídio, Anillo de Fuego, Satanichaos e o mais recente Apocalypsenow, que inclusive nos surpreendeu pela aceitação do pessoal por lá que já conhecia os sons do novo trabalho.
Bom, chega o terceiro dia na Bolívia e com duas apresentações previstas. A primeira bem pela manhã do domingo, e bem no meio de um culto em uma igreja no centro de La Paz, com a presença de mais de 3000 pessoas. Milhares de pessoas ouviram Death Metal pela primeira vez em sua vida e no lugar mais inusitado do mundo: em um culto matinal de uma igreja. Mas foi uma grande experiência ver aquelas milhares de pessoas que não bangueavam nem faziam mosh, mas gritavam muito e nos aplaudiram em pé ao final, e não nos deixando ir embora. Mas tínhamos que ir e rápido. Um almoço às pressas e uma pequena viagem onde não parávamos de subir. O show foi na cidade El Alto que pertence ao Departamento Autônomo de La Paz no oeste da Bolívia, a uma altitude de 4.000 metros. Aí realmente sentimos muita falta de ar e dores de cabeça incríveis. Sentimos um pouco do que sofrem os times de futebol quando jogam lá e perdem o jogo. Mas não podíamos perder. O Público mais uma vez compareceu e nos empurrou em cada música. Foi mais um dia incrível e de muita aceitação do nosso trabalho.
A segunda-feira, dia 21 de outubro, começou bem cedo para nós, e antes de viajarmos para a cidade de Oruro, onde seria a próxima apresentação, fomos gravar um programa de televisão bem conhecido no País, o “En la Selva”, que apresenta Vídeo Clips, e apresentado por Sílvia Salcedo. Rolou uma entrevista muito descontraída contando particularidades da banda e entre uma questão e outra tocávamos ao vivo. Foi montado um pequeno palco com tudo o que precisávamos e foi muito legal. Esse programa é transmitido para mais de 60 países e o gravamos com muita expectativa. Maldito Lúcifer (Satanichaos), Domínio (Apocalypsenow) e Massacre (Demonocídio) foram os sons escolhidos. Mal acabamos o programa tomamos um ônibus e fomos para a cidade de Oruro a 229 km de La Paz e a 3.708 metros acima do nível do mar. Em 2009 o Antidemon havia feito uma apresentação histórica e inesquecível nessa cidade sob uma temperatura de 17 graus negativos. A expectativa era repetir o feito e superar o desempenho, pois não enfrentaríamos uma temperatura tão baixa. A apresentação aconteceu em uma praça no centro da cidade e mesmo sendo em uma segunda-feira o público estava lá em peso. Mais uma vez a galera nos recebeu com muito carinho, e não deixavam que partíssemos do local do evento fazendo com que tivéssemos uma seção de fotos e autógrafos por mais de 2 horas depois da apresentação.
Após cinco shows em quatro dias tivemos finalmente um dia de descanso, na terça-feira, dia 23 de outubro, para retomarmos a turnê na cidade de Sucre, que é a capital constitucional da Bolívia no dia seguinte.
E para isso tivemos uma quarta feira cheia. Às três horas da madrugada de quarta-feira, dia 24 de outubro, saímos de Oruro rumo ao aeroporto de La Paz, aonde chegamos às seis da manhã para conseguirmos um voo até Sucre. Chegando lá teríamos muitas atividades antes do show: uma entrevista em um canal de TV, uma passada rápida na Rádio Rock da Cidade, no programa “La Bruja” e algumas entrevistas para fanzines undergrounds de Sucre. O cansaço não foi motivo para pararmos e assim seguimos até o momento do show, que seria mais uma apresentação bem no meio da semana. A galera foi chegando e com um pouco de atraso começamos e com mais ar para respirar, visto que Sucre está bem mais baixa que as outras cidades que havíamos tocado até então. Não poderia deixar de ressaltar que até essa apresentação não tivemos bandas de abertura, o que aumentava ainda mais a nossa responsabilidade. Foi um consenso das organizações desses eventos que nossas apresentações tivessem total prioridade.
Quinta Feira, 25 de outubro, mais um dia que madrugamos para ir para o aeroporto. Destino: Cochabamba. Foi realmente um alívio chegar aos 2.560 metros de altitude e ver bastante verde e sentir um pouco mais de umidade no ar. A nossa sétima apresentação foi em um local fechado no centro da cidade. O nosso material já estava acabando, os CDs e camisetas que levamos foram quase todos vendidos e já estávamos nesse dia com as últimas unidades. Desta vez tivemos a abertura de uma banda local de Hard Core, o Fearless, que apresentou cinco sons e aquecendo a galera para o show do Antidemon. Apesar do nosso show principal em Cochabamba ser no dia seguinte, uma galera considerável compareceu e mais uma vez não nos deixou sair do palco na primeira tentativa e mais uma vez nesta turnê tivemos que repetir a música “Massacre”, pois eles gritaram até que puxássemos os primeiros acordes desse som.
No dia seguinte, sexta feira, dia 26 de outubro, a apresentação seria na Praça das Bandeiras, um lugar lindo e com a bandeira do Brasil hasteada bem atrás do local em que ficou posicionado o palco. Com um público bem superior ao dia anterior, e até por ser um evento gratuito e aberto, fomos muito bem recebidos nessa última apresentação em Cochabamba, inclusive com a presença de vários brasileiros.
Chegara o dia 27 de outubro, sábado, e a nossa derradeira apresentação nessa fantástica turnê pela Bolívia. A despedida seria uma vez mais em La Paz, o local escolhido foi o “La Catacumba”, instalado em um antigo pub bem no centro da cidade. Como o lugar não era tão grande, os organizadores fizeram uma espécie de divulgação limitada e mesmo assim o local ficou cheio. A despedida realmente foi difícil, pois depois de tantas coisas que aconteceram nesses poucos dias na Bolívia, o público estava lá emocionado, cantando todas as músicas e gritando o nosso nome. Nas palavras finais eu realmente estava com um nó na garganta devido a tanto apoio que recebemos nesse país onde a maioria das bandas até ignora. Mas pudemos testemunhar que na Bolívia existe um cenário feito por pessoas apaixonadas pelo Metal. Precisávamos sair logo depois da nossa apresentação, pois nosso voo ao Brasil seria pela madrugada, mas foi impossível. Como o local era pequeno a galera literalmente nos encurralou no salão e tivemos que viajar sem dormir. Mas valeu muito essa noite e cada minuto que passamos nesses 09 dias em território boliviano e saímos de lá já com convites de um breve retorno. Isso tudo é o que nos faz insistir nessa estrada e continuar representando o Heavy Metal brasileiro lá fora. Realmente é bom viver pra isso.